segunda-feira, 18 de maio de 2015

CARTAS DO CORAÇÃO...


Desprendidas do mundo e dos parentes, parece que tudo está consumado e não há nada contra o que lutar.  Ó meus irmãos não vos dei por seguros, nem vos abandoneis ao sono.   Será  como quem se deita bem sossegado, trancando hermeticamente as portas por medo dos ladrões.  Sejamos nós mesmos pois, bem o sabeis que não há pior ladrão do que a acomodação.  Se cada um não andar com grande cuidado, contradizendo a própria vontade, como se fora este o mais importante de todos os negócios, muitas coisas haverá para tirar essa santa liberdade de espírito que impede a alma de voar para o seu Criador, sem ir carregado de terra e chumbo.
Grande remédio para isto é trazer continuamente no pensamento a vaidade de todas  as coisas e sua pouca duração. Perde-se assim o amor às futilidades 
empregando-o no que jamais há de acabar.  Por este meio, embora pareça 
insignificante, a alma se fortalece muito.
Nas menores circunstâncias é preciso andar com o máximo cuidado . Sentindo-nos afeiçoados  a alguma criatura, afastemos dela o pensamento
voltando-o para Deus, pois sua ele não o deixará sem ajuda.
Ele nos fez trazendo-nos a esta casa onde o principal esta feito. Resta desapegarmo-nos de nós mesmos. É bem duro separar-nos de nós mesmos, porque somos muito agarrados ao nosso eu ao amarmo-nos ecessivamente.
Aqui entra a verdadeira humildade. Esta virtude a meu ver, anda sempre junto com o desapego. São irmãos inseparáveis.  Não é delas que vos aconselho fugir, antes quero que as abraceis e ameis e nunca queirais ficar sem elas.
Ó soberanas virtudes,  senhoras de todo o Criado, imperatrizes do mundo, libertadoras de todos os laços e ciladas do demônio, tão amados de Cristo, nosso Mestre, que nunca se viu um instante sem elas!
Quem as possui bem pode lutar contra todo o inferno e o mundo inteiro com as suas seduções. De ninguém tenhais medo. Vosso é  o Reino dos Céus. Nada receais, pois nada se vos dá de perder todos os bens do mundo,  e nem tampouco considerai isto como perda. Só temei descontentar a Deus, e viver para suplicar-lhe que os sustente na prática destas duas virtudes para não privar-vos delas por culpa própria.
Certo é que a humildade e o desapego têm  a propriedade de se esconderem de quem as possui, de maneira que nunca serão vistos, nem vos persuadeis em tê-las, mesmo que volas apresentem.
Mas tanto as estimais, que sempre procureis adquiri-las, e assim as ireis aperfeiçoando em vós cada vez mais. É bem  fácil descobrir os humildes e desapegados. Sem perceberem dão-se logo a conhecer.
Mas que loucura pôr-me eu a louvar a humildade e mortificação, estão elas tão louvadas pelo Rei da glória e tão confirmadas por seus imensos sofrimentos!
Ei pois filhos meus, mãos  à obra para sair da terra do Egito.  Achando estas virtudes, achareis o maná. Todas as coisas vos serão saborosas e, por amargas que sejam ao paladar dos mundanos, para vós serão doces...


Wylson

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